Introdução

Na década de 1930, quando Robert E. Howard começou a escrever as fantásticas aventuras do guerreiro cimério Conan, que se tornou rei da Aquilônia — ou ainda antes, do mítico rei da Atlântida, Kull, certamente não imaginava que seu trabalho se tornaria um marco na criação de um subgênero da Fantasia.

No início, este tipo de história era classificada simplesmente como Fantasia Heróica (Heroic Fantasy, no original), mas uma discussão entre os escritores Fritz Lieber e Michael Moorcock no início dos anos de 1950 mudou tudo. Na seção de cartas de Amra — o fanzine da Liga Hiboriana, um grupo de fãs e escritores de fantasia — os dois autores debatiam sobre o termo mais adequado para classificar as histórias de Howard, que tinham características que as tornavam bem diferentes da Fantasia Heróica tradicional.

Enquanto Moorcock sugeriu o termo Fantasia Épica (Epic Fantasy, no original), Lieber propôs Espada & Magia (ou Espada & Feitiçaria, se formos ao pé da letra do termo original sword-and-sorcery), para destacar os elementos mais importantes da narrativa de Howard: a proximidade com o sobrenatural em um universo repleto de ação; a escala dos perigos no nível pessoal, nunca ameaçando todo um mundo ou uma nação, apenas o universo imediato do protagonista — que possui uma moral flexível e é representado não como um aventureiro inspirado, mas frequentemente como um ladrão, saqueador, mercenário ou mesmo assassino, sempre com suas motivações muito humanas e pessoais para fazer o que faz.

Para quem não conhece, Moorcock é o criador de Elric de Melniboné, o feiticeiro albino da espada amaldiçoada Stormbringer; e Lieber, o autor de Lankhmar, um mundo de fantasia pulp, centrado em ambientes urbanos e que conta com os protagonistas Fafhrd & Gray Mouser.

Ou seja, ambos sabiam muito bem do que estavam falando.

E entre as décadas de 1960 e 1980, o subgênero iria crescer e se expandir, especialmente através das coletâneas de fantasia organizadas pelo escritor e editor Lin Carter. Porém, o lançamento do filme Conan, O Bárbaro, em 1982, trouxe uma enxurrada de filmes (muitos de origem italiana) de Espada & Magia com baixíssima qualidade, o que acabou por mudar o significado do conceito para a percepção popular — de forma nada positiva — fazendo com que o estilo caísse em declínio, embora sua estética persista em muitas mídias, como cinema, literatura e quadrinhos (para não falar nos videogames).

É fácil distinguir a Alta Fantasia da Espada & Magia, principalmente pela tendência da primeira em envolver exércitos em larga escala através de vastos cenários, com desfechos que afetam reinos inteiros, detalhando cidades e regiões inteiras. E embora a presença de um Antagonista Sombrio seja comum, sempre há a certeza de vários protagonistas e, em alguns casos, centenas deles.

Na Espada & Magia, seus heróis solitários — se é que podemos chamá-los assim — possuem uma moral ambígua, lutam contra seus oponentes até às últimas consequências e na maioria das vezes, são considerados forasteiros até mesmo em sua própria terra natal. Seguem rigorosamente suas paixões e desejos pessoais, sejam eles glória, dinheiro, diversão ou qualquer coisa que lhes traga um benefício (que não precisa ser duradouro).

Seus inimigos, mesmo que poderosos, são apenas homens e mulheres que possuem proeminência social, econômica, religiosa ou mesmo sobrenatural. Ou seja, eles se igualam ao protagonista, contudo, são inteiramente controlados pelos seus desejos e paixões — sempre muito humanos — mesmo que possuam poderes sobrenaturais.

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